sábado, 2 de julho de 2011

No túnel do tempo: Itamar Franco e o carnaval de 1994

Presidente da República no Carnaval de 1994, Itamar Franco foi ao Sambódromo, no Rio de Janeiro. Foi o suficiente para entrar para o folclore brasileiro com a história da modelo Lílian Ramos, a modelo que desfilou sem calcinha...
Releia reportagem da revista Veja de 23 de fevereiro de 1994:




23 de fevereiro de 1994

CARNAVAL DO BARULHO
Vulgaridade, ingenuidade, esperteza, bebedeira e oportunismo se misturam na folia vã e inconseqüente do camarote do poder



A maioria da República de Juiz de Fora era contra. Os ministros Henrique Hargreaves, da Casa Civil, Maurício Corrêa, da Justiça, Djalma Morais, das Comunicações, e José Aparecido de Oliveira, embaixador em Portugal, achavam péssima a idéia de o presidente Itamar Franco assistir ao desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro. Achavam que ele correria o risco de levar uma vaia estrepitosa e davam como inevitável que a imagem do presidente fosse associada à dos bicheiros, já que o convite partira da Liga das Escolas de Samba, dominada pela contravenção carioca. Mauro Durante, secretário de Itamar, era o único que defendia o Carnaval presidencial, com o argumento de que seria bom para reforçar o estilo homem-simples-do-povo-que-gosta-de-manifestações-folclóricas. O presidente decidiu contra a maioria, apelando para uma insuspeita erudição histórico-carnavalesca. "O último presidente a ir a um desfile e a ficar ao lado do povo foi Hermes da Fonseca, que esteve num entrudo em 1913", disse o presidente aos amigos.

E lá se foram os mineiros para o Sambódromo, dispostos a fazer com que Itamar repetisse o marechal do início do século. E lá protagonizaram o entrudo mais extraordinário desde que o samba é samba. Não porque se tenham confirmado os receios da maioria da Turma de Juiz de Fora. A vaia não veio e poucos se lembraram dos bicheiros. Em compensação, ingenuidade, esperteza, despreparo, bebedeira e vulgaridade se misturaram em doses hipercarnavalescas, fazendo com que a folia do poder fosse tema de pilhérias nacionais e internacionais. Houve de tudo um pouco no camarote dos bicheiros, mas o pivô do espanto foi uma ausência. A ausência de uma peça do vestuário feminino. Mais precisamente: a exibição da ausência de uma roupa íntima igual aos 208 milhões que são vendidos todos os anos no Brasil. Indo ao X da questão: Lilian Ramos, uma cearense de 27 anos que ganha a vida como modelo de segunda categoria, atriz de terceira e oportunista de primeira, foi fotografada sem calcinha ao lado do presidente da República. Na foto, é possível ver com nitidez aquele órgão da anatomia feminina que, na língua portuguesa, tem mais de 130 palavras para nomeá-lo - entre elas, concha, flor e maçã. Um espanto.


CHARMOSO -
O presidente chegou ao camarote da Liga às 10 e meia da noite de domingo, no momento em que a Unidos da Tijuca terminava o seu desfile. Assim que colocou o rosto para fora do parapeito, Itamar foi reconhecido e um grupo tentou puxar o refrão "abaixo a inflação". Itamar recuou para dentro do camarote, enquanto o protesto era abafado por modestos aplausos. O público deixou o presidente em paz. Foi-lhe servida uma dose de uísque, a única que tomou durante as sete horas que ficou no camarote. Quando a Viradouro entrou na Marquês de Sapucaí, o presidente voltou ao parapeito e começou a se animar. Em princípio, um tímido tamborilar de dedos na mureta. Depois, um batuque de lado, sobre o cinto bege. A seguir, acenos, o polegar para cima e gritos de "muito bem" - sempre dirigidos a mulheres que desfilavam. Mais um pouco, e estava mandando beijinhos de mão para passistas e destaques dos carros alegóricos enquanto trocava cochichos com o secretário Mauro Durante. Os gestos eram mais eloqüentes, e o entusiasmo aflorava ao rosto presidencial, quando desfilavam sambistas sem sutiã. Aos homens, o presidente destinava aplausos protocolares. Um comportamento alegre, típico do Carnaval.

O entusiasmo chegou ao ápice quando Itamar vislumbrou determinado destaque, fantasiado de Princesa da Pérsia, empoleirado num carro alegórico da Viradouro. Era a única princesa no carro com os seios à mostra. Era Lilian Ramos, com seus 1,75 metro de altura, 96 centímetros de busto, 68 de cintura, 96 de quadris. "Vi que o presidente estava me olhando, sorrindo e acenando", conta Lilian. "Achei Itamar charmoso e mandei um beijo para ele." O presidente retribui várias vezes o gesto de Lilian - beijar a palma da mão e assoprar na direção do presidente -, demorando cada vez mais os lábios na mão e assoprando com maior vigor.


Terminada a apresentação, Lilian Ramos trocou a fantasia por uma camiseta (justa e curta), uma meia-calça (arquitransparente) e sapatos (dourados, de salto alto). Calcinha e sutiã, nem pensar. "Não achei nada de mais ficar só de camiseta porque é o que costumo fazer depois do desfile", diz a moça, que neste ano se apresentou pela sétima vez na Marquês de Sapucaí. Ela está acostumada a se apresentar com pouca ou nenhuma roupa. Em 1986, graças à sua semelhança com a cantora Fafá de Belém, posou nua para a revista Playboy e, no ano passado, fez strip-tease numa boate em Belo Horizonte. A atriz juntou-se à sua irmã Cristiana e foi para o camarote do deputado Valdemar Costa Neto, líder do PL na Câmara. Excitada, contou ao parlamentar que o presidente lhe havia acenado. "Como eu ia levar uma amiga para conhecer Itamar, Lilian pediu para ir junto", diz o deputado. A modelo chegou a perguntar a Costa Neto se ele via algum inconveniente em ir falar com o presidente naqueles trajes. "Será que tem algum problema?", perguntou a jovem. "Que nada, é Carnaval", tranqüilizou-a o liberal, que, no dia seguinte, acrescentou: "Mas juro que nem desconfiava que a Lilian estivesse só de camiseta".


Na porta do camarote da Liga postaram-se o deputado, sua amiga Dana, Lilian e a irmã, Cristiana. Um segurança os barrou, dizendo que só poderiam entrar com a autorização do presidente. O segurança, no entanto, passou adiante o recado de que o deputado e a atriz queriam cumprimentá-lo. O recado chegou ao secretário Mauro Durante, que o repassou a Itamar. Sem pestanejar, o presidente autorizou a entrada. A moça de formas maximalistas e roupas minimalistas foi recebida por Itamar com beijos, abraços, afagos no rosto e carícias nos ombros. "Eu sou sua fã", disparou Lilian. "Eu também sou seu fã, você estava linda na avenida", retribuiu Itamar. A cascata de carinhos não destoava do comportamento do presidente com outras mulheres naquela noite memorável. Em dois minutos, por exemplo, Itamar deu três beijos na apresentadora de televisão Marília Gabriela, recebeu outros tantos, pegou-lhe duas vezes no queixo, conversaram bem cara a cara e despediram-se com mais três beijos e um abraço. Também ganharam beijos as cantoras Gal Costa, Beth Carvalho e Nana Caymmi, as atrizes Lucélia Santos, Betty Faria e Ana Maria Magalhães, as colunistas Danuza Leão e Joyce Pascowitch e as misses Alagoas e Juiz de Fora.


"MUITO RESPEITO"
- O que destoou foi o comportamento de Lilian. Enquanto as outras conversavam com o presidente e pouco depois iam embora, a coelhinha se aboletou ao seu lado e de lá não saía. Conversa vai, conversa vem, a temperatura foi subindo. Conversavam bem de pertinho, de dedos entrelaçados. "O presidente me convidou para visitar o Palácio da Alvorada, disse que eu era inteligente, de uma simpatia contagiante e tinha uma boca linda", lembra Lilian. Também se abraçavam pelos ombros e pela cintura. Ela enlaçava o pescoço dele, sambando. Ele pousava as mãos sobre a perna dela. "Mas tudo isso com muito respeito", esclarece a moça. A temperatura ficou tão alta que uma repórter perguntou ao presidente se estavam namorando. "Estamos?", indagou Itamar à atriz. "É melhor deixar em aberto", respondeu.

Cordata, Lilian Ramos atendeu ao pedido dos fotógrafos para que levantasse os braços quando sambava. Junto com os braços, subia a camiseta e evidenciava-se a ausência da calcinha, enquanto os flashes dos fotógrafos espoucavam loucamente. "Acho que ela sabia que estava aparecendo tudo", diz o fotógrafo Marcelo Carnaval, de O Globo, um dos autores das fotos de Itamar e Lilian publicadas em dezenas de jornais pelo Brasil e pelo mundo afora. A essa altura dos acontecimentos, todo mundo no camarote sabia que a colombina de Itamar estava nua embaixo da camiseta. "Ela está sem sutiã, sem calcinha e sem vergonha", resmungava José de Castro, amigo do presidente. Mauro Durante chegou-se ao ouvido de Itamar e lhe contou. "O presidente me disse para tomar cuidado para os fotógrafos não verem alguma coisa", diz Lilian.


JUSTIÇA CAMBALEANTE
- O mal-estar se espalhou pelo camarote com a contribuição do ministro da Justiça, Maurício Corrêa, que estava completamente embriagado. Corrêa comeu peixe ao molho de camarão só com uma faca. Aporrinhou um menino de 8 anos que dormia num sofá, acordando-o por três vezes. Agarrou José Aparecido pela cintura com tal força que os dois desabaram sobre um sofá. Foi inconveniente com três repórteres. Colocou um penacho verde e rosa da Mangueira na cabeça do presidente. O responsável pela balança da Justiça balançou, cambaleou, tropeçou em cadeiras. Copo de uísque na mão direita, com a esquerda afagava Lilian, a musa do presidente. "Meu erro foi ter misturado", explica Maurício Corrêa. "Bebi cerveja antes etomei uísque no camarote." O ministro bebeu tanto que nem se lembra direito do que fez naquela noite. Involuntariamente, no entanto, colocou-se do lado dos que fizeram algo para tentar tirar Itamar da situação vexaminosa em que se encontrava. Cansado e com a cabeça rodando, várias vezes ele se aproximou do presidente e, com voz pastosa, suplicou: "Vamos voltar para o hotel, Itamar". Em vão. O presidente o mandava falar com Mauro Durante.

Já Mauro Durante, perfeitamente sóbrio, percebeu que a situação estava fora de controle e insistiu com Itamar para que fossem embora. Mas não houve meio. Só pouco antes das 4 da manhã o presidente decidiu ir embora. Os dois foliões já haviam então acertado alguns dos próximos passos. Lilian havia lhe passado seu mimoso cartão de visita, com uma foto com os seios opulentos semidesnudos, enquanto o presidente lhe dava o telefone do seu gabinete em Brasília. Itamar lhe ofereceu uma carona: iriam no ônibus da comitiva presidencial até o Hotel Glória, onde estava hospedado, e lá ele lhe providenciaria um carro oficial para levá-la até sua casa. "Se eu não estivesse com minha irmã, jamais teria aceito o convite: poderia pegar mal", esclarece a jovem.


No ônibus, sentaram-se separados e não trocaram palavra. Talvez porque, no seu transe etílico, Maurício Corrêa insistisse em gritar: "Itamaaaaaaaarrr!" Ao chegarem ao hotel, o presidente deu uma bronca nos repórteres que se aproximaram, na tentativa de ver o que ele conversava com Lilian. "Vocês não vêem que eu tenho uma coisa para conversar com ela?", perguntou, com irritação. "Eu não tinha a intenção de ficar no hotel, já que ele estava cansado e eu também", informa a modelo. Segundo ela, antes de trocarem dois beijos de despedida, o presidente lhe disse que aquele não era o momento "apropriado" para se encontrarem e que lhe telefonaria depois.


BOCA BONITA
- Dito e feito. E rápido. E com insistência. Foram cinco telefonemas naquela segunda-feira de primeira-namorada de Lilian. O primeiro foi pouco depois de a atriz pôr os pés no apartamento.

- Estou ligando para saber se você chegou bem e agradecer a noite. Gostei muito de te conhecer - disse o presidente.


- Obrigada. Também gostei muito de te conhecer - respondeu ela.


- Você tem uma boca muito bonita e estou com vontade de beijá-la - afirmou Itamar.


Lilian não conta o que disse ao presidente na seqüência, mas combinaram de se falar novamente.


O segundo telefonema foi às 4 da tarde. A conversa foi presenciada por jornalistas do jornal O Globo e da Rede Globo que, com a autorização da coelhinha, gravaram tudo. Pedindo silêncio com o indicador na frente dos lábios, para que o presidente não percebesse que havia outras pessoas por perto, Lilian repetia cada frase de Itamar.


- Estou com viagem marcada para Juiz de Fora hoje, mas estou quase desistindo por sua causa - disse Itamar.


- Por que você vai então? - questionou a garota.


- Eu vou porque você não me convidou para ficar - respondeu Itamar.


Depois de alguma embromação, o presidente mudou de assunto:


- Estou apaixonado por você.


- Ainda é cedo para dizer que está apaixonado - ponderou Lilian.


Despediram-se com o compromisso de se falarem mais tarde.


Logo em seguida, a modelo tomou a iniciativa de telefonar para o presidente. Tinha a intenção de dizer-lhe que topava jantar juntos, mas não passaram a ligação para a suíte presidencial. Sem ter recebido o recado, o apaixonado telefonou alguns minutos depois. Dessa vez, a moça pediu-lhe que não fosse para Juiz de Fora. "Então vou cancelar a viagem e te ligo mais tarde para acertarmos o jantar", respondeu o presidente. às 7 da noite, Itamar recebeu o recado que Lilian lhe havia deixado, e telefonou imediatamente, algo alarmado.


- Recebi um recado seu. Você mudou de idéia, não quer mais sair comigo? - perguntou o apaixonado.


NÃO TEM MAIS CLIMA
- A atriz desfez o equívoco, Itamar ficou aliviado e disse-lhe que um carro iria pegá-la lá pelas 9 e meia da noite. Enquanto isso, já circulava entre os amigos do presidente no hotel a eloqüente foto de Lilian com Itamar que seria publicada pelos jornais no dia seguinte. às 8 horas, o acerto entre o presidente e a Princesa da Pérsia começou a ruir. Na suíte do Hotel Glória, Itamar, Mauro Durante e José Aparecido sentaram-se para assistir ao Jornal Nacional. Na televisão, apareceram primeiro as carícias no camarote. Depois, Lilian falando com Itamar pelo telefone, repetindo frases do presidente. O presidente ficou magoado, não com Lilian Ramos, e sim com a imprensa.

- Você vê, entram na casa das pessoas, gravam na casa das pessoas... - lamentou o presidente.


- Ô, Itamar, que ela consentiu, consentiu. Ninguém faria isso sem o consentimento dela - rebate José Aparecido.


- Podem ter entrado na casa dela... - insistiu o presidente. Não terminou a especulação (os jornalistas teriam entrado pela janela disfarçados de poltronas? Teriam tomado alguma poção que os tornava invisíveis?) porque Mauro Durante atalhou:


- Depois do que aconteceu, não dá mais para sair com ela, não é presidente? - perguntou o secretário.


- Isso é verdade - reconheceu Itamar.


Findo o noticiário, o apaixonado ligou para sua paixão. Segundo a modelo, travaram o seguinte diálogo.


- É melhor deixarmos nosso encontro para outro dia. Hoje está complicado. Não tenho condições nem de sair do hotel porque a imprensa está em cima de mim - propôs o presidente.


- Também acho melhor assim. Hoje não tem mais clima - assentiu a modelo de boca bonita.


- Estou triste porque tinha ficado no Rio para jantar com você - lamentou o galanteador.


- Presidente, eu não autorizei ninguém a gravar nossa conversa pela extensão. Os jornalistas estavam aqui de plantão e acabaram pegando a nossa conversa - disse a modelo.


Tristinhos, despediram-se com a promessa de Itamar de que ligaria de novo para acertar uma ida dela a Brasília. Até a noite de sexta-feira, porém, o presidente não havia telefonado para Lilian Ramos. Não havia clima. Talvez porque, desde que assumiu o governo, há catorze meses, o presidente tenha conseguido unanimidade: todos ficaram contra o seu comportamento no episódio. Mesmo os integrantes da República de Juiz de Fora, que de público tentaram explicar que o presidente-é-um-homem-do-povo-e-agiu-como-tal, diziam intramuros que Itamar enfileirara uma formidável seqüência de tolices. Tolices que foram respondidas com tolices. É o caso do manifesto assinado pela Associação Brasileira de Exportadores de Calçados e pelo bispo de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, que ofende a lógica. "As atitudes do presidente da República no Sambódromo inviabilizaram de vez a governabilidade da nação", ruge o manifesto calçado-episcopal, que a seguir pede a renúncia de Itamar em "caráter irrevogável" - como se fosse possível uma renúncia revogável. Misturar governabilidade com calcinha é um pouco demais. Na mesma linha tola seguiu Max Schrappe, vice-presidente da Fiesp. "O presidente ficou numa situação lamentável, é um caso de impeachment", defendeu o dirigente da entidade, que fez o que pôde para evitar o impeachment de Collor. Como costuma acontecer, a Fiesp esteve mais uma vez na contramão do bom senso e do pensamento das ruas. Uma pesquisa feita em São Paulo pelo Inform-Estado mostra que 70% da população considerou inadequado o comportamento do presidente, mas 90% acha que não é o caso de impeachment.


CLIENTES VIPS
- Que o episódio, além de prejudicar Itamar, também dificulta a vida do país, não há a menor dúvida. Até sexta-feira, pesaroso, o Itamaraty contabilizava a publicação de quarenta reportagens sobre o Carnaval de Itamar - todas ácidas. Na Itália, escreveu-se que o presidente se envolvera com uma estrela pornô. Na Alemanha, o caso foi rotulado de "o escândalo da calcinha". Na rede americana CNN, os apresentadores riram muito depois de ler a notícia. O presidente conseguiu uma projeção ainda maior que a do príncipe Charles quando, em 1978, no Rio, bêbado como um gambá, tentou bolinar a passista Pinah. Nem por isso Itamar Franco se deu por achado. Em Juiz de Fora, seguiu na folia como se nada tivesse acontecido. Enlaçou-se com a princesa do Carnaval e, divertido, brandiu uma cueca no palanque de onde assistia ao desfile das escolas de samba de seu torrão natal. Com esse comportamento, o presidente Itamar ficou menos presidente e mais Itamar.

Já Lilian Ramos, que usou o presidente para conquistar os seus quinze minutos de glória, com a mesma velocidade viu seu triunfo transformar-se em lama. Ao longo da semana, vários de seus conhecidos vieram a público para esclarecer que, além de modelo e atriz, ela exerce a mais antiga das profissões. "Quando saíram as fotos dela na Playboy, alguns clientes da casa ficaram interessados nela", lembra Luiz Ottavio Dimartino, de 34 anos, dono do La Bohème, a boate paulistana. "Conseguimos fazer contato e trazê-la para um programa com um cliente." Foi o começo de uma convivência que durou dois anos. "Lilian só saía com clientes vips, uma média de dois por mês. Ela cobrava um cachê bem acima da média de 150 dólares. Na época, nunca saía por menos de 500 dólares."


No Rio de Janeiro, Lilian é afilhada de uma senhora chamada Dorcas de Oliveira. Durante a entrevista coletiva que deu na terça-feira, a modelo recebeu várias orientações de Dorcas. "Sou madrinha dela", disse Dorcas, orgulhosa. O telefone de Dorcas é o mesmo da Rita Modelos, agência que oferece mulheres nos classificados de jornais cariocas. "Todo mundo sabe que Lilian é garota de programa", diz a atriz Matilde Mastrangi. A estrela pornô Enoli Lara, ex-namorada do ex-ministro Bernardo Cabral, emenda: "Quando estava na pior, Lilian cobrava 100 dólares por encontro para pagar as contas e não escondia a profissão". O produtor de televisão Leleco Barbosa, filho de Chacrinha, conheceu Lilian quando ela era macaca de auditório do programa do pai. "Ela sempre foi garota de programa", afirma Leleco. Na sexta-feira, por fim, Dagmar de Paula Affonso, 65 anos, que hospedou Lilian Ramos quando ela foi morar no Rio, convocou a imprensa para enumerar histórias escabrosas sobre a modelo. "Ela sempre foi prostituta", diz Dagmar, que ofereceu aos repórteres uma extensa lista de políticos, artistas e empresários que teriam pago para desfrutar de Lilian. "Jamais fui prostituta", defende-se a paixão de Itamar, a moça que ele queria beijar na boca. E cada vez menos acreditam nela. A ressaca da Quarta-Feira de Cinzas esteve à altura do Carnaval do presidente e de sua Princesa da Pérsia.


No Carnaval, rir ainda é o melhor remédio
Uma seleção das melhores piadas da semana

Na noite da segunda-feira de Carnaval, quando os brasileiros começaram a descobrir o que havia acontecido no Sambódromo, o país foi inundado pelo que tem de melhor: o bom humor. Uma onda de piadas animou a semana. Deram suas colaborações alguns profissionais do riso, como Bussunda, e até escritores sérios, como Ignácio de Loyola Brandão. Sempre atentos, os anônimos de Brasília juntaram-se aos políticos para engrossar o cordão. Veja a seguir algumas das melhores tiradas:


"Uma associação exigiu a renúncia de Itamar: a Associação de Exportadores de Calçados e Afins. Os afins dos calçados não são os chinelos? Estão vendo como anda tudo errado no Brasil? Quem deveria pedir a renúncia seria a Associação dos Exportadores de Calcinhas. Lilian estava sem calcinha, não sem calçados
."
Ignácio de Loyola Brandão, escritor

"Lilian Ramos estava na dela. Quem não estava na dela era a calcinha."
Ignácio de Loyola Brandão


"
Se ainda fosse num Fusquinha..."
Pedro Simon, líder do governo no Senado

"
Há quem seja bom de cama. E há quem seja bom de camarote".
Zózimo Barrozo do Amaral, colunista

"O destino de Lilian Ramos é permeado de sósias. Ganhou a primeira notoriedade por ser sósia de Fafá de Belém e a segunda por se engraçar no Sambódromo com um sósia de presidente da República."
Hector Babenco, cineasta


"Cá entre nós, você entregaria a administração do seu país a um sujeito que conhece uma moça, sem calcinha, num baile de Carnaval e se apaixona por ela?"

Bussunda, humorista

"Isso sim é que é governo de transparência."
Teodomiro Braga, colunista


"Pior é se ele tivesse abraçado o Clóvis Bornay no desfile."
Son Salvador, do Movimento Machista Mineiro


"Sarney, quando foi ao Rio, foi atacado com uma picareta. Itamar Franco, também."
Piada Brasiliense


"Perder o controle da economia é o de menos..."
Diane Kinch, presidente do Clube dos Correspondentes Estrangeiros no Brasil


Diálogo entre Mário Covas (PSDB-SP) e um amigo:
- Onde você está hospedado? - pergunta o amigo.

- No motel Glória - responde o senador.

"O púbico é público? A res-pública é uma res-púbica?"
José Murilo de Carvalho, professor universitário


"Se uma potranca como essa consegue embromar tão acintosamente o presidente, imagine o que um político raposão, tipo Quércia, não é capaz de fazer com o pobrezinho."
Barbara Gancia, colunista


"A Lilian sem calcinha fez mais estrago do que um bando do Comando Vermelho com revólver."
Luiz Antônio de Medeiros, sindicalista


"Não teve escândalo. Afinal, quem apareceu sem calcinha foi a modelo."
Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ)

Fonte: Thaisa Galvão

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